domingo, 16 de janeiro de 2022

MASCULINIDADE FRÁGIL

 




Pq a música do Thiago Iorc mexeu tanto comigo, ao ponto deu ouvir ela pelo menos 3x ao dia. 

Thiago Iorc, cantor, começou a fazer muito sucesso alguns anos atrás. Lançou a moda do coque samurai esquerdomacho e era assim que ele era. 

De uma hora pra outra, no auge do sucesso ele sumiu, não deu notícias alguma de seu paradeiro, surgiu novamente para se pronunciar sobre uma polêmica e sumiu.

Algum tempo depois lançou uma música sobre depressão e associou seu desaparecimento a ter depressão e sumiu. Sim, esse é o artista que some. 

Quando foi final do ano passado veio o tapa na cara da masculinidade frágil. 

Eu ouvi a primeira vez e chorei, chorei pensando nos homens da minha vida. Meus avós, que foram reprimidos e podados. Meu vô por parte de mãe, alcoólatra e mulherengo, cheio de traumas de infância, uma vida difícil. A única vez que ele me disse alguma coisa foi um pouco antes de morrer, ao telefone disse pela primeira vez que me amava e que tinha orgulho de mim. Eu chorei, agradeci, retribuí e algum tempo depois ele se foi. E eu olhava para os 5 filhos dele nesse velório e pensava como nenhum ali ouviu eu te amo na infância, teve um abraço, um afago, um pouco de compreensão. Foram produção e produto trabalha, produto produz.

Ai veio meu vô paterno na cabeça, religioso, brincalhão, como eu brinquei com ele, a sua maneira de dizer eu te amo foi a mais gostosa possível , mas nunca o ouvi dizer essas palavras, mas elas vieram, através da frase "você é a pessoa que mais pensa parecido comigo". Meu vô é uma pessoa tão linda, tão boa, que me curou um pouquinho ao dizer isso. Eu sempre o vejo como a melhor pessoa que eu já conheci, ele da bronca com todo cuidado, da conselhos morrendo de medo de ofender, mas comigo, se precisar debater, brigar e falar mais alto ele fala, porque é a forma dele de dizer que me ama e cuida de mim, mas sem dizer eu te amo. 


E agora o meu pai. Quando fiquei grávida minha vó me mostrou a cartinha, ele escreveu pra ela quando eu nasci, dizendo o tanto que me amava. Mas ele não sabe dizer isso. Teve tanto medo de eu puxar a minha mãe que se afastou e me afastou. Ficou esse buraco, onde a única coisa que tinha era uma dor que me corroía. E então um dia percebo, meu pai não ouviu, então não sabe falar. 


E ele sem saber falar teve um menino. Tão doce, delicado, fofinho. Eu lembro que ele falava pro meu irmão coisas do tipo "vc tem que ser homem, homem joga futebol, HOMEM NÃO CHORA" 

Meu avô não chora, meu pai não chora, meu irmão não chora. 

Meu irmão gostava de dançar, mas dançar era coisa de menina. Pra dançar só escondido, pedir para fazer balé foi horrível. 

Então ele foi crescendo e eu me tornei dura, cascuda, não teve amor em nenhum lugar e nunca soube se expressar. Não se descobriu, ou olhou no espelho e percebeu quem realmente é. Tem medo, tem vergonha, é reprimido, é covarde e abusivo. Caiu na pornografia. Teve fotos vazadas na internet. 

Não consegue admitir o que realmente sente, não consegue viver. 

Ele sobrevive, mas não vive.



E é sobre isso, o que a sociedade causa nos meninos. Thiago obrigada por essa música que sempre me faz chorar.




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